Análises e comentários sobre a realidade da segurança pública vêm num crescente debate em blogs. A pesquisa Blogosfera Policial no Brasil - do Tiro ao Twitter, realizada em uma parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC), aponta que o "temor às retaliações" é forte entre os donos dos blogs. Dos 73 entrevistados, 27 disseram já terem sido censurados ou reprimidos. As ameaças de prisão e transferência vêm em primeiro lugar, com quase 26% dos casos.
Coordenada pelas pesquisadoras Silvia Ramos e Anabela Paiva, do CESeC, a publicação é a primeira investigação em profundidade sobre a mais recente e relevante tendência na cobertura de polícia, criminalidade e políticas de segurança. O levantamento de informações e a análise dos blogs foram realizados por meio de perguntas formuladas na internet e respondidas por 73 policiais blogueiros, autores de 70 blogs, entre maio e junho deste ano.
Nos depoimentos, os entrevistados dividem a percepção de que, no passado, em análises e debates sobre polícia e policiais, quase nada era dito pelos próprios agentes de segurança. Segundo eles, os debates sobre o setor reuniam somente profissionais de meios de comunicação, especialistas e governantes.
Esse cenário mudou com o surgimento dos blogs sobre segurança e a abertura de espaços destinados a reflexões pouco divulgadas na mídia tradicional, segundo o estudo. Entre os assuntos tratados pelos agentes na internet foram identificadas abordagens raras ou inexistentes nas páginas de jornais, como política salarial e condições de trabalho das forças policiais.
Fenômeno recente
O estudo aponta que, entre os blogs avaliados, apenas 12 foram criados em 2006 ou em anos anteriores. Os dados caracterizam o fenômeno como especialmente recente e em franco desenvolvimento. Entre janeiro e início de agosto deste ano, foram criados 15 novos blogs policiais. Em função desse crescimento, a pesquisa avalia que os sites jornalísticos são apenas a ponta mais visível, porém menor e talvez menos importante, da blogosfera policial.
Os dados coletados indicam que a maior parte da comunidade virtual é formada por conteúdos assinados por policiais das regiões Sudeste (43), seguida das regiões Centro-Oeste (9), Nordeste (7), Sul (7) e Norte (4). O Rio de Janeiro é o Estado que concentra o maior número dos blogs sobre segurança, com 22 deles.
Segundo a pesquisa, o predomínio é de policiais militares por trás das postagens. No universo pesquisado, 58% dos entrevistados são oriundos da PM (35,6% oficiais e 23,3% praças), 15,1% da guarda municipal e 13,7% da Polícia Civil. Ainda segundo o estudo, a maioria dos blogueiros acredita contar com o apoio de seus colegas (91,8%). Quando se trata de superiores hierárquicos, porém, as avaliações se dividem: apenas 24,3% acham que suas iniciativas são aprovadas, enquanto 20% acham que elas são reprovadas e 21,4%, que são vistas com indiferença.
Além de política salarial e condições de trabalho, outros temas sensíveis como direitos humanos, investigações de corregedorias, projetos comunitários e inquéritos abandonados são tratados pelos blogs com freqüência e destaque. "Como é que pode sob a justificativa de preservar a hierarquia e disciplina, ressalte-se em tempo de paz, cercear direitos humanos e fundamentais como é o caso do direito de reunião?", dizem os autores de um dos blogs pesquisados ao atribuírem o nascimento da página a uma "demanda reprimida".
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