domingo, 10 de janeiro de 2010

Modo de usar celulares ainda marca diferenças culturais

A frequência com que as pessoas usam seus telefones celulares ou a maneira como elas se comportam enquanto falam, durante muito tempo foi considerada uma marca cultural, reflexo do país de origem ou da cidade destas pessoas. Com a pentetração cada vez maior das novas tecnologias no cotidiano, principalmente dos poderosos smartphones, muitos analistas defendem que estas diferenças tendem a desaparecer.

Uma reportagem da revista The Economist publicada nesta semana destacou alguns estudos e opiniões sobre o assunto, já que, na opinião de muitos analistas, estamos vivendo o início de uma revolução dos celulares inteligentes, que, até 2015, deverão dominar o mercado e ser a maior parte dos portáteis em atividade no mundo.

A União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês) afirma, por exemplo, que há dez anos existiam 500 milhões de celulares habilitados no mundo, enquanto hoje, esse número passa dos 4,6 bilhões. Nos países ricos, o número de celulares ultrapassa o número de habitantes, enquanto nos países pobres mais da metade da população já possui um aparelho. Já a GSM Association indica que a média de uso mundial de um celular no início dos anos 2000 era de 174 minutos por mês, enquanto que no início de 2009 esse número subiu para 261 minutos.

Na opinião do presidente do Grupo Vodafone, que opera redes em mais de 30 países, Vittorio Colao, quanto mais desorganizados são os países, mais as pessoas usam celular. "A cultura influencia o estilo de vida, e o estilo de vida influencia o modo de comunicação das pessoas", diz Colao. "Se você não deixar seu telefone ligado durante uma reunião na Itália, você pode perder a próxima reunião", afirma o executivo italiano.

No Japão, destaca a revista, falar ao telefone em público é desaprovado culturalmente e, algumas vezes, pode ser até proibido formalmente. Alguns estudos, diz a reportagem, afirmam que atender um celular dentro de um trem no Japão, por exemplo, pode ser considerado pior do que atender dentro de um teatro ou cinema. Por isso, o grande avanço dos aparelhos japoneses nos serviços e ferramentas de mensagens de texto, emails e leitura de livros eletrônicos, já que as telas dos celulares em língua japonesa permitem a exibição de uma quantidade muito maior de informação.

Na Alemanha, a média de conversação por telefone celular por mês é de apenas 89 minutos. Na opinião de uma executiva da Deutsche Telekom, os alemães, além de econômicos com as palavras, pensam também nos custos. "Para ligações mais longas, os consumidores usam as linhas fixas", disse Anastassia Lauterbach.

Já os americanos são os mais falantes, com uma média mensal de 788 minutos falando ao celular. A revista destaca o fato das ligações serem baratas nos Estados Unidos, onde não há cobrança de roaming em todo o território do país, e de as pessoas terem o costume de falarem enquanto dirigem, usando equipamentos alto-falantes, especialmente nos muitos estados americanos onde ainda é permitido.

O modo como as pessoas se comportam enquanto falam ao telefone também é uma questão cultural, segundo uma socióloga espanhola responsável por um estudo que comparou os usuários de celulares em Madri, Paris e Londres. Segundo Amapro Lasén, da Universidad Complutense de Madri, madrilenses e parisienses se sentem mais a vontade para falar nas ruas, mesmo no meio das calçadas, enquanto os londrinos costumam se dirigir para determinados lugares, mais protegidos, como as entradas dos metrôs, espécie de "cabine telefônica improvisada".

Apesar das diferenças culturais ainda existirem, muitos estudiosos acreditam que a tendência é que as pessoas passem a reagir às novas tecnologias de maneiras cada vez mais semelhantes. A revista destaca que o estudo de Amapro foi realizado no início dos anos 2000, e, que, quando a pesquisadora retornou à estas cidades mais recentemente, observou que muitas das diferenças entre os habitantes das capitais tinham se atenuado.

O pesquisador da Universidade de Michigan, Scott Campbell, autor de vários livros sobre o uso de celulares, acredita que a longo prazo as diferenças nacionais devem desaparecer, e que devem persistir apenas as variações referentes à economia dos países. Nos países pobres, as pessoas irão usar de modo diferente seus celulares simplesmente por falta de dinheiro, diz o pesquisador.

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