Fascinados pela chance de ler e-mails e entrar em sites pelo celular, jovens criam dependência similar à do uso de drogas
Quem tem smartphones como BlackBerry e iPhone sabe como é difícil resistir a duas tentações acopladas em um mesmo produto: o telefone e o computador. Aos poucos, os brasileiros repetem o que já acontece em países desenvolvidos: trocam o convívio real com pessoas em bares, restaurantes, reuniões de trabalho, salas de aula e até festas pelo contato virtual em celulares, nos quais podem ler e-mails, entrar em sites, mandar torpedos. Quem está de fora geralmente reclama, com razão. Psicólogos e cientistas alertam para o novo fenômeno de massa, a escravidão virtual. E, não por acaso, esses usuários estão começando a ser chamados de “Geração CrackBerry”, numa alusão à droga crack e ao smartphone mais vendido no mundo, o BlackBerry.
INSTANTÂNEO
As amigas Maria Eduarda, Jessica e Giovanna: mensagens trocadas até durante a aula da faculdade
O empresário carioca Marcelo Magalhães, 32 anos, sabe o que é isso. Ele tem um iPhone e um BlackBerry. Magalhães mal acorda e confere suas mensagens. Claudia Mello, 37 anos, promoter no Rio de Janeiro, até já desenvolveu uma estratégia: em lugares públicos, foge para o banheiro para atualizar sua caixa de entrada em paz. “Fico nervosa com aquele vermelhinho de e-mail piscando”, diz, referindo-se à luz vermelha que avisa a chegada de uma nova mensagem. Uma nova pesquisa da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, comprovou a dependência desse equipamento. Dos jovens entrevistados, 69% disseram ser mais provável esquecer a carteira do que o celular, 75% já tinham adormecido com o iPhone na cama, 71% disseram já ter usado o aparelho para evitar fazer contato visual e 36% admitiram que ouviram reclamações pelo uso excessivo do smartphone. Um estudo de 2006 da Rutgers University, de Nova Jersey, revelou que um terço dos usuários de BlackBerry mostrava sinais de vício similares aos de alcoólatras.
Criados para otimizar o tempo e diminuir a dependência de um escritório fixo, os smartphones são símbolo de uma era em que “fazer-tudo-ao-mesmo-tempo-agora” é necessário para dar conta das muitas obrigações pessoais e profissionais. Mas o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo, alerta para o fato de que o cérebro precisa de momentos de relaxamento. “A superestimulação pode gerar um quadro semelhante ao de estresse”, diz ele. Engana-se quem pensa que joguinhos, Twitter e sites de relacionamento configuram descanso. Nada disso relaxa, diz Abreu, que compara o fascínio pelo cigarro das gerações passadas ao vício em celulares atualmente. Os smartphones ainda não são utilizados em massa no Brasil, mas em apenas um ano as vendas cresceram 69,2%, segundo dados da consultoria Gartner. As amigas Maria Eduarda Souza, 20 anos, Jessica Resnick, 19, e Giovanna Nadruz, 20, trocam mensagens entre si durante as aulas na faculdade. Jessica usa seu smartphone como despertador, passa-tempo, computador etc. “É viciante mesmo”, admite. O estudante Roberto Neto, 20 anos, não acredita que vá ficar dependente de seu BlackBerry como seu amigo Bernardo Zerkowski, da mesma idade, que “surta” sem seu iPhone. “Tenho o aparelho há dois anos e hoje não me adaptaria a um celular normal”, diz Bernardo. Quem estiver em dúvida sobre quão grave é seu caso, pode baixar o aplicativo I Love BlackBerry, que calcula quantas horas o usuário deste aparelho gasta com ele. E descobrir se pertence à “Geração CrackBerry.”
CONEXÃO
Roberto tem BlackBerry e Bernardo um iPhone: geração criada com smartphone
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